yawanawa tribe history

Tribo Yawanawa – Localização, Demografia, Arte, Cultura, Xamanismo, Rituais

Localização e Demografia

O povo Yawanawá reside na região sul da Terra Indígena Rio Gregório, que divide com a comunidade Katukina da aldeia Sete Estrelas. Situado no município de Tarauacá, este território indígena tem significado histórico por ter sido o primeiro a ser demarcado oficialmente no Acre. A demarcação física foi concluída em 1984, obtendo aprovação em 1991, e posteriormente registada na conservatória do registo predial em 1985 e no Serviço do Património Nacional em 1986.

A viagem até Tarauacá é sempre desafiadora e demorada. Durante a estação seca, o nível da água do rio cai muito para que o motor de popa seja eficaz, enquanto na estação chuvosa a estrada se transforma em um caminho lamacento, impossibilitando a viagem motorizada. A distância da aldeia até o ponto onde a BR-364 cruza o rio exige uma viagem de canoa de três a quatro dias.

A população total é estimada em cerca de 3.000 indivíduos. Aproximadamente 30 deles residem em centros urbanos próximos, como Tarauacá, Cruzeiro do Sul, Feijó e Rio Branco, ou em outras aldeias indígenas. As melhorias nas condições de saúde facilitaram o crescimento populacional substancial devido a um aumento simultâneo nas taxas de natalidade e a uma diminuição notável nos níveis de mortalidade infantil.

Arte e Cultura

O conhecimento das artes, incluindo cerâmica, desenhos, armamento e cestaria, é predominantemente detido por um grupo seleto, principalmente os mais velhos. No entanto, tem havido um esforço recente para transmitir esta experiência às gerações mais jovens. Notavelmente, um aspecto cativante da arte Yawanawá reside nos diversos desenhos de pintura corporal, apresentados com destaque no festival de mariri (explore mais em “Rituais”). Esses desenhos são aplicados com urucum e/ou jenipapo, às vezes complementados com uma resina perfumada para aumentar a adesão do corante à pele.

Durante os festivais rituais, saias de palha Burity, toucas de bambu com padrões complexos e pulseiras de palha servem como adornos adicionais. Alguns indivíduos continuam o ofício de fabricar armas – como lanças, arcos, porretes de guerra, flechas e adagas, tradicionalmente usadas na guerra – feitas de bambu e madeira de pupunha selvagem. Essas armas são embelezadas com desenhos complexos, fios de algodão e penas, provenientes principalmente de araras, tucanos e papagaios. Notavelmente, a fabricação de armas é uma prática exclusivamente masculina, enquanto as atividades de design, assim como a cerâmica e a cestaria, estão associadas à esfera feminina. Os processos de fabricação de armas e cerâmica envolvem cuidados meticulosos para garantir sua qualidade e eficácia.

Yawanawa Children dancing

Xamanismo

Embora o foco predominante do xamanismo Yawanawá hoje gire em torno de práticas de cura, é digno de nota que, no passado, o papel do xamã abrangia um espectro mais amplo, investigando áreas como a guerra e a caça. No âmbito da cura, os especialistas Yawanawá empregam diversas técnicas, incluindo cantos curativos e sopros. Entre estes, o método contemporâneo mais proeminente é conhecido como “orar”, referido como shuãnka.

Durante as sessões de cura, o praticante, conhecido como xinaya, consome ayahuasca e vocaliza sobre um pote cheio de caiçuma de mandioca, mistura que o paciente beberá posteriormente. Este processo ritualístico reflete a natureza intrincada e holística das práticas xamânicas Yawanawá, onde se entrelaçam elementos espirituais e medicinais.

A ambivalência do poder xamânico entre os Yawanawá é marcante, pois confere a capacidade de curar e induzir doenças. Acusações de feitiçaria e envenenamento não são incomuns dentro e entre grupos, levando a tensões sociais intermitentes que podem resultar em divisões. A partir de 1999, a comunidade contava com dois especialistas em cantos e cinco especialistas em remédios vegetais, mostrando a natureza multifacetada das suas práticas tradicionais de cura.

Hape ceremony

Rituais

Os festivais desempenham um papel crucial na formação da dinâmica sociopolítica dos Yawanawá, tanto nas suas interações com grupos externos como dentro da sua comunidade. O termo “Saiti”, derivado de “sai”, que significa gritar ou chamar, serve como termo geral Yawanawá para o festival. Outro termo, “Mariri”, não originário da tradição Yawanawá, adotou o mesmo significado e também é utilizado por outros grupos da região.

Um festival digno de nota é o “Uma Aki”, também conhecido como festival caiçuma, que se estende por vários dias e enfatiza principalmente as relações intergrupais, com a participação frequente de outras comunidades. Este ritual desenrola-se através de várias sequências, algumas das quais podem manifestar-se como festivais menores e independentes. Essas sequências incluem brincadeiras, consumo e posterior expurgo da caiçuma, dramatizações de guerras, além de danças e cantos tradicionais. O festival uma aki serve como uma expressão vibrante de intercâmbio cultural e vínculo comunitário entre os Yawanawá.

Na festa uma aki, a caiçuma de mandioca, bebida fermentada com a ajuda da saliva das mulheres, tem papel significativo. As mulheres assumem a sua produção e oferecem-no aos homens, que, num gesto recíproco, são obrigados a vomitá-lo nas mulheres. Esse processo assume uma dimensão intercultural: as mulheres Yawanawá participam de brincadeiras com homens de outros grupos, enquanto os homens Yawanawá recebem caiçuma das mulheres visitantes.

A festa do mariri, realizada à noite, engloba uma série de danças e cantos caracterizados por um tom lúdico e metafórico. Durante este ritual, alguns indivíduos, em sua maioria homens adultos, participam do consumo de ayahuasca (uni).

Além disso, um ritual de inverno conhecido como yuina, que significa “enviar por caça”, envolve um pedido simbólico das mulheres por frutas específicas consumidas por animais de caça. Em seguida, os homens organizam uma expedição de caça especializada e, ao retornarem, a carne é trocada por ‘pamonha’, uma pasta doce de milho. Esta intrincada interação de rituais ressalta a riqueza cultural e as trocas simbólicas dentro da comunidade Yawanawá.

Como entrar em contato com a tribo Yawanawa

Entrar em contato com esta tribo muito isolada é um desafio para muitos. Além disso, qualquer contacto com pessoas de fora é alarmante para estes povos indígenas. Vivacre Retreat trabalha com esta tribo e tem uma longa história de negócios justos com Yawanawa. Para chegar a essas aldeias é preciso ir desde Rio Branco e depois pegar um barco. Portanto, antes de tomar essa decisão, é recomendável entrar em contato com as autoridades.

Referências

  1. CALAVIA SAES, Oscar.  A variação mítica como reflexão.  Rev. de Antropologia, São Paulo : USP, v. 45, n. 1, p. 7-36, jan./jun. 2002.
  1. CARID NAVEIRA, Miguel Alfredo.  Yawanawa : da guerra a festa.  Florianópolis : UFSC, 1999.  (Dissertação de Mestrado)
  2. MAHER, Tereza Machado (Org.).  Na Wichipa Nete Tapiwe : I cartilha de alfabetização Yawanawa.  Rio Branco : CPI-AC, 1993.
  1. SENA, Vera Olinda; MAHER, Tereza; BUENO, Daniel (Orgs.).  Histórinhas indígenas da floresta.  Rio Branco : CPI-AC,  2001.  84 p.
  1. SMERECSANYI, Lúcia.  Relatório de pesquisa de campo.  São Paulo : USP/NHII, 1991.  
  2. VINNYA, Aldaiso Luiz. OCHOA, Maria Luiza Pinedo. TEIXEIRA, Gleyson de Araújo. (Orgs.) Costumes e Tradições do Povo Yawanawá. Comissão Pró-Índio do Acre / Organização dos Professores Indígenas do Acre. – Rio Branco, 2006. <http://www.cpiacre.org.br/pdfs/projeto_yawa_visualizacao.pdf>

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